Instituto Pensar - À CPI, advogada diz que Prevent escondeu riscos de kit a pacientes e familiares

À CPI, advogada diz que Prevent escondeu riscos de kit a pacientes e familiares

por: Iara Vidal 

Foto: Agência Senado

Em depoimento à CPI da Pandemia no Senado, a advogada Bruna Morato disse que um dos diretores da Prevent Senior, identificado como Felipe Cavalca, encaminhou mensagens em que orientava médicos do plano de saúde a não informar a pacientes e familiares sobre os riscos do tratamento com o "kit covid?. Ainda segundo a advogada, os usuários "foram ludibriados? para assinar termos de consentimento para a realização de estudos sobre os medicamentos ineficazes.

"O paciente idoso é extremamente vulnerável. Eles não sabiam que seriam feitos de cobaia. Eles sabiam que iriam receber medicamentos. Isso são coisas diferentes. Quando chegava para retirar o medicamento, era passada a seguinte informação: "para retirar essa medicação, o senhor precisa assinar aqui?. Eles não tinham ciência de que esse "assina aqui? era o termo de consentimento.?
Bruna Morato

Leia também: Prevent Senior persegue médicos que denunciaram esquema do "kit covid?, diz advogada

Bruna: intenção inicial de acompanhamento do paciente não foi seguida

Questionada pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre a prescrição indiscriminada de medicamentos, Bruna Morato disse que houve uma intenção inicial da operadora de "acompanhamento mais completo? dos pacientes pelo médico. No entanto, segundo ela, a demanda era tão alta que a Prevent passou a deixar de orientar o acompanhamento para fazer a prescrição da medicação sem eficácia comprovada. De acordo com a advogada, o protocolo não orientava pedidos de eletrocardiograma, de tomografia e até mesmo do exame de diagnóstico de covid-19, o PCR.

Kit covid ?era estratégia para redução de custos?, diz advogada

Bruna Morato disse à CPI que a prescrição do "kit covid? era uma estratégia da Prevent Senior para evitar a internação de pacientes nos hospitais da rede e reduzir custos. Ela foi questionada sobre o tema por Renan Calheiros (MDB-AL).

"Não é nem uma questão interpretativa. É uma constatação. As mensagens de texto disponibilizadas à CPI mostram que a Prevent Senior não tinha a quantidade de leitos necessários de UTI e, por isso, orientava o "tratamento precoce?. É muito mais barato você disponibilizar um conjunto de medicamentos ao pacientes, do que fazer a internação desses pacientes. Era uma estratégia para redução de custos?, afirmou.

Dia da entrega do kit Covid era chamado ?golden day?, afirma depoente

Segundo a advogada Bruna Morato, o objetivo da Prevent Senior e de seus aliados no governo, com o estudo em massa da hidroxicloroquina, era "que as pessoas tivessem a impressão de que existia um tratamento eficaz contra a covid-19?:

"Eles denominavam isso golden day [?dia de ouro?, em inglês]: no segundo dia de sintomas, as pessoas teriam que tomar o kit e supostamente estariam salvas de qualquer complicação?, afirmou Bruna.

Medicamentos eram dados a todos os pacientes internados, diz advogada

Bruna Morato afirmou à CPI que o "kit covid? inicialmente era composto por dois medicamentos (hidroxicloroquina e azitromicina). Segundo ela, itens foram acrescentados ao longo do tempo, até que se chegou a um conjunto de oito medicamentos, incluindo vitaminas e suplementos proteicos.

Após intervenção de Otto Alencar (PSD-BA) a respeito do uso de remédio para câncer de próstata (flutamida), a advogada esclareceu que esse medicamento não estava no "kit covid?, mas era administrado para todos os pacientes internados por coronavírus.

"Medicamentos como a flutamida ou o que eles chamavam de tratamentos via nanopartículas também foram usados de forma experimental.?

Era preciso ?dar esperança? com a hidroxicloroquina, segundo Bruna

Bruna Morato citou os nomes que vinham assessorando o governo federal e o papel de cada um: Anthony Wong, toxicologista, era responsável por desenvolver um "conjunto medicamentoso atóxico?; Nise Yamaguchi, especialista em imunologia, disseminaria informações sobre resposta imunológica; e Paolo Zanotto, virologista, falaria sobre o vírus de forma mais abrangente. A Prevent Senior fez um "pacto? para colaborar com essas pessoas.

"A economia não podia parar e eles tinham que conceder esperança para as pessoas saíssem para as ruas. E a esperança tinha um nome: era ?hidroxicloroquina\'?, afirmou.

Advogada diz que se sentiu ameaçada após invasão a escritório

A Renan Calheiros (MDB-AL), Bruna Morato disse que se sentiu ameaçada após a divulgação pela imprensa das denúncias dos médicos, em abril. Ela relatou que, depois desse momento, seu escritório foi invadido por uma "quadrilha muito bem estruturada?. Os invasores, disse, duplicaram o IP de todas as câmeras e deixaram o sistema de segurança vulnerável por quatro dias. Segundo Bruna, canos foram cortados causando inundação de vários andares do prédio. De acordo com ela, apesar de terem levado apenas um iPad e um computador "sem memória?, a ação teria sido uma tentativa de intimidá-la.

"Não posso afirmar qualquer relação com a empresa, mas aconteceu, e desde então, tenho me sentido ameaçada?.

Na pandemia, Prevent saiu de seu caminho inicial, afirma testemunha

Bruna Morato disse aos senadores que respeita a Prevent por se tratar de uma das maiores operadoras de saúde do país, que tem um plano específico voltado para idosos, "com uma ideologia muito bonita de levar atendimento de qualidade a essa população?. Durante a pandemia, no entanto, "algo fez com que eles desvirtuassem daquele caminho inicial?. 

Bruna: Prevent aliou-se a ?médicos alinhados com Ministério da Economia?

Segundo a advogada Bruna Morato, no início da pandemia o diretor da Prevent Pedro Batista Jr. tentou se aproximar do então ministro da Saúde,  Luiz Henrique Mandetta, que havia criticado a empresa após várias mortes por covid-19 no hospital Sancta Maggiore, em São Paulo.

Sem êxito na aproximação com Mandetta, a Prevent teria fechado uma "aliança? com um grupo de médicos que assessoravam o governo federal, "totalmente alinhados com o Ministério da Economia?.

"Existia um interesse do Ministério da Economia para que o país não parasse. Existia um plano para que as pessoas pudessem sair às ruas sem medo?, denunciou Bruna, que ressalvou nunca ter ouvido o nome do ministro Paulo Guedes nas conversas.

Depoente diz que pacientes recebiam kit com manual de instrução

A advogada Bruna Morato afirmou que os kits de "tratamento precoce? da Prevent Senior eram fornecidos em pacotes fechados e lacrados, com manual de instruções. 

"Quando o médico queria tirar algum medicamento, ainda que ele riscasse na receita, o paciente recebia o kit completo. O médico tinha que riscar, porque inclusive a receita também estava pronta.?

Médico não tinha autonomia para tirar remédio e pedir exame, diz Bruna

Bruna Morato disse que os médicos da Prevent Senior não tinham autonomia para retirar medicamentos do kit covid ou pedir exames para os pacientes. Segundo a advogada, a empresa punia com demissão os profissionais que descumprissem a orientação de prescrever o conjunto de medicamentos sem eficácia.

"Não existia autorização para fazer determinados exames. Se prescrevia hidroxicloroquina sem a realização do eletrocardiograma. Existia a dispensação de ivermectina, e o médico não tinha autonomia para retirar esse item. Os médicos eram orientados à prescrição do kit, que vinha num pacote fechado e lacrado. Quando o médico queria tirar algum item, ainda que ele riscasse na receita, o paciente recebia completo. A receita também já estava pronta?, afirmou Bruna Morato.

Ela lembrou que a maior parte dos clientes da operadora é de idosos, o que torna a prescrição do kit covid ainda mais perigoso.

"A Prevent Senior é um plano em que a faixa etária média é de 68 anos. Os pacientes que utilizavam esses kits já tinham muitas vezes comorbidades associadas. O conjunto de medicamentos, apesar de ser ineficaz, se tornava potencialmente letal para aquela população?, disse a advogada.

Advogada procurou a Prevent Senior para acordo

Bruna Morato confirmou que procurou o jurídico da Prevent Senior para fazer um acordo ? que segundo ela nunca foi financeiro. A advogada afirmou que seus clientes pediram que a empresa tomasse três atitudes.

Os pedidos eram que a Prevent Senior assumisse publicamente que o estudo sobre "tratamento precoce? foi inconclusivo, além de assumir o protocolo institucional da empresa, deixando claro que os profissionais não tinham autonomia. Os médicos também exigiam que a empresa fizesse um documento se responsabilizando a arcar com custos de possíveis processos.

Bruna Morato elogia senadoras e se diz ?aterrorizada? com atos da Prevent

Em sua fala inicial, a advogada Bruna Morato ressaltou que não precisou de habeas corpus para não se incriminar, ao contrário de outros depoentes da CPI. Ela disse se inspirar no exemplo da bancada feminina na CPI. Declarou seu "agradecimento? à Prevent Senior pelos "ataques infundados? contra ela e seus clientes, pois, segundo Bruna, "fica fácil demonstrar a constante política de opressão? da empresa.

Bruna afirmou nada ter contra os médicos ou os diretores da Prevent Senior, mas disse que seus clientes denunciaram fatos que a deixaram "aterrorizada?.

"Falta de autonomia médica, ocultação e manipulação de dados, falta de transparência em relação aos pacientes e falta de respeito em relação à vida das pessoas?.

CPI convoca empresário que financiaria fake news

A CPI aprovou dois requerimentos de Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O primeiro prevê a convocação do empresário Otávio Oscar Fakhoury. Segundo o vice-presidente da comissão, Fakhoury é "o maior financiador dos canais de disseminação de notícias falsas como Instituto Força Brasil, Terça Livre e Brasil Paralelo?.

O segundo requerimento pede o compartilhamento de dados obtidos pela operação Pés de Barros, da Polícia Federal. A investigação apura fraudes na aquisição de medicamentos de alto custo pelo Ministério da Saúde durante a gestão do ex-ministro e atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).

Randolfe pede convocação de Braga Netto e Queiroga

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) defendeu a aprovação de vários requerimentos. Ele disse ser necessário ouvir novamente o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e apoiou o pedido de Alessandro Vieira (Cidadania-SE) pela convocação do ministro da Defesa, Walter Braga Netto. O general também atuou como ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro. Randolfe também sugeriu a convocação do empresário Otávio Fakhoury, apontado como financiador dos canais de disseminação de notícias falsas. E também sugeriu a aprovação do requerimento que solicita o compartilhamento, com a CPI, de dados da Operação Pés de Barro, desencadeada pela Polícia Federal, que teve entre os alvos o líder do governo, deputado Ricardo Barros (PP-PR), e investiga fraudes na aquisição de medicamentos de alto custo pelo Ministério da Saúde. 

 Com informações da Agência Senado



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